Não é fácil contar em poucas palavras o que é a Programação NeuroLinguística, ou PNL, como se diz de forma abreviada. No entusiasmo de transmitir de forma rápida uma mensagem de novas perspectivas, esconde-se o problema da simplificação.
Nasceu nos anos 70 na Califórnia, entre o tempo dos hippies e dos yuppies (tendências que encontramos ainda hoje nas diversas abordagens), como resultado das preocupações de Bandler, especialista em matemática, computadores, e psicologia, em colaboração com Grinder, professor de linguística. Uma das pergunta básica dos fundadores da PNL era: “qual é a diferença que faz a diferença entre os que têm ´êxito´ e os que não têm?”.
Desde o começo esteve presente uma distinção que os autores consideravam básica em relação à ciência oficial: importante não é propriamente a teoria ou a verdade, mas são os resultados práticos. E assim nasceu uma das mais importantes, senão a mais importante, ciência e arte da prática de eficiência e desenvolvimento pessoal, no dia-a-dia, aplicada a todos os ramos da vida por gestores, terapeutas, formadores, trabalhadores na área social, professores, médicos e enfermeiros, e a todos aqueles que, individual ou profissionalmente, estão empenhados em tornar as suas vidas mais atractivas, eficazes e significativas para si e para os outros.
O P de Programação, termo do mundo dos computadores, refere-se aos programas mentais que consciente e inconscientemente nós mesmos criámos e que são responsáveis pela maneira como agimos. N, abreviatura para Neuro, quer dizer que tudo o que nós pensamos, sentimos e fazemos é um produto do que acontece no nosso sistema nervoso. L, refere-se à Linguagem verbal e não verbal, sobretudo ao código que organiza e dá sentido às nossas sensações neurológicas e à expressão. A maneira de como agimos está directamente dependente dos nossos programas.
As boas notícias que Bandler e Grinder, de novo, nos trouxeram: os nossos programas mentais são transformáveis!
Claro que muita gente já sabe isso. Já se fala de pensamento positivo há muitos anos e, no decorrer do tempo, manifesta-se de nova forma. Mas o que não ficou muito claro é a questão, como é que isso se faz? Como se adquire e se mantém, com vistas a resultados a longo prazo, o pensamento positivo?
Uma importante base da PNL reside no conteúdo da frase: “o mapa não é o território”.
Cada um interpreta a realidade à sua maneira. Os estímulos exteriores (o território) são distorcidos, generalizados e (a maioria) omitidos. Aquilo de que nos apercebemos é apenas o nosso mapa pessoal construído à base de filtros - a nossa forma específica de linguagem, as recordações, os nossos valores e convicções, os meta programas psicológicos, as decisões tomadas, etc. Deste processo resulta uma representação interna (o mapa) que, por sua vez, é influenciado e ao mesmo tempo influencia os nossos estados emocionais e a fisiologia. Daí resulta um comportamento. Quer dizer, de forma um pouco simplista, se queremos modificar o comportamento, é questão de modificar a representação interna, o mapa.
A PNL ensina a forma de manusear as pedras básicas do pensamento, o que se traduz numa técnica conhecida como a “transformação das sub-modalidades das representações internas” (por exemplo, dê nova cor, ou som, ou distancie o acontecimento de carácter negativo, e passará a vivenciá-lo doutra maneira).
Só esta técnica básica já seria em si suficiente para justificar o impacto da PNL no mundo. Quer ter “sucesso”? - Dê aos seus pensamentos as sub-modalidades do “sucesso”, e o seu sistema nervoso faz o resto. Claro que isto é a base, mas apenas o começo. Claro que pode não ser suficiente.
As nossas representações do mundo estão directamente dependentes dos filtros (fisiologia, decisões, recordações, convicções, etc. – toda a nossa história pessoal tem os seus fundamentos mais enraizados, nos primeiros anos de vida).
Os fundadores, para além de estarem familiarizados com importantes figuras da ciência da época que lhe forneceram as bases conceptuais, modelaram pessoas de sucesso na terapia, como Perls (terapia gestalt), Satir (terapia de famílias), Erickson (renovador da hipnoterapia) e outros. A PNL possui técnicas excepcionais ao nível dos filtros, ao nível da transformação de convicções, reestruturação das recordações, reenquadramento total da vida, técnicas essas que permitem transformações pessoais a nível muito mais radical. Sobretudo, desenvolvidas mais tarde por um grande grupo de investigadores, a partir dos trabalhos originais de Bandler e Grinder, os quais acabaram por desperdiçar grande parte do seu tempo em disputas jurídicas de que nenhum saiu vencedor.
Falar da PNL é falar de aspectos da PNL. Há diversas abordagens possíveis. PNL é todas estas abordagens mas, às vezes, é dado um acento especial a uma abordagem em particular.
Eis algumas das consideradas como principais abordagens:
* Estudo da estrutura da experiência subjectiva, quer dizer, estudo dos processos pelos quais pensamos o que pensamos, sentimos o que sentimos e agimos como agimos. Nesta abordagem está central a descoberta dos processos inconscientes que formam a totalidade das nossas sensações, pensamentos e acções;
* Modelagem da excelência humana, parte do princípio de que o que alguém é capaz de realizar de forma excepcional, cada um de nós é, em princípio, capaz de fazê-lo também, desde que esteja disposto a empregar a mesma estratégia mental e física. Nesta abordagem concentramo-nos na construção de modelos copiados de pessoas consideras excepcionais na realização seja do que for, desde acordar todos os dias bem-disposto até à estratégia de grandes managers, santos, génios ou Jesus Cristo.
* Tecnologia de comunicação connosco e com os outros, concentra-se nos processos como construímos para nós mesmos as mensagens de sucesso ou fracasso, de esperança ou desespero; de como interpretamos o mundo e como reagimos aos outros com as nossas mensagens verbais e não verbais.
* Atitude na vida, resume-se numa tomada de posição: tomar lugar à frente no autocarro da vida, atrás do volante, num processo de auto-responsabilização, ou ir atrás onde as massa se apinham, ao sabor da vontade de outros e culpando outros de todos os mal-estares da nossa má posição. Chamamos a isto, estar do lado da Causa ou do lado do Efeito. Para além disso fala-se duma atitude de curiosidade, auto-experimentar, flexibilidade e crescimento contínuo.
* Transformação pessoal, pode significar, encontrar o Todo, o processo que conduz a uma congruência cada vez maior entre todas as partes do Ser, agir a partir das fontes mais profundas da existência, crescer em Unidade, a caminho do “cerne”, a partir do “cerne”.
Nas abordagens da PNL, a transformação pessoal e o crescimento individual ocupam um lugar central. Não se trata dum sucesso simples qualquer, mas duma realização total como ser humano. Chamamos a isso “congruência” e “ecologia”.
Congruência significa coerência, harmonia entre diversos níveis neurológicos. Falamos de “congruência” quando a maneira como me comporto no mundo está em harmonia com as minhas habilidades, capacidades e competências, e em harmonia com os meus valores e as minhas crenças e convicções e em harmonia como sinto a minha identidade e como experimento a minha transcendência, quer dizer, a minha missão em relação a mim mesmo, aos meus amigos, à minha família, ao meu trabalho, ao mundo, ao cosmos, ou a Deus (depende do modelo do mundo de cada um).
O processo de harmonia, a busca de sentido, o encontro com a minha fonte interior, com o Eu mais profundo, ou Deus, ou como lhe queiram chamar, de modo que eu possa funcionar de forma congruente na minha vida privada, em casa, ou com os amigos, ou no meu ambiente profissional são, hoje em dia, uma preocupação cada vez maior. E claro que estes aspectos não se resolvem simplesmente com uma dose de pensamento positivo.
A questão do pensamento positivo e do sucesso complicam-se mais porque não temos a ver simplesmente com uma pessoa única. Eu não sou simplesmente “eu”. Eu sou um aglomerado de personalidades, “partes”, que é como são denominadas nesta metodologia.
Quantas vezes não tomámos a decisão de fazer ou não fazer isto ou aquilo e o “outro” em nós, age precisamente como uma personalidade autónoma? E quanto mais a queremos subjugar, mais ela age de forma independente e poderosa. Habituámo-nos na nossa cultura, desde muito pequenos, a tentar esconder e subjugar as “partes” que não nos agradam ou que socialmente são menos aceitáveis, os nossos “demónios”. Cada "parte" possui determinadas recordações, convicções e valores próprios, programas especiais. Há um conjunto de “outros” dentro de nós. Lutar com estes “outros”, que afinal de contas somos nós mesmos, significa “perder”.
Estes “outros” têm uma hierarquia de intenções positivas. Não só é possível dialogar com estas “partes” a caminho duma maior congruência pessoal, como é possível através destas “partes”, empregando modernas técnicas da PNL, atingirem-se estados essenciais de Ser que permitem transformações individuais com grandes implicações na vida profissional e privada.
Ao modelar pessoas excepcionais, os criadores e os continuadores da PNL foram confrontados com princípios básicos, convicções, que formam, nestas pessoas excepcionais, as bases da excelência. Estes princípios básicos são nomeados “Pressupostos Básicos da PNL”. Formam o fundamento do edifício.
Alguns pressupostos são, por exemplo, já formulado acima: “o mapa não é o território (as palavras que empregamos não são os acontecimentos ou assuntos que representam) ”; outros pressupostos referem-se à relação com as outras pessoas e à nossa comunicação em particular como, por exemplo, “ respeite o modelo do mundo de cada pessoa”, e “eu sou o único responsável pela minha comunicação com os outros (o significado da comunicação é a resposta que se obtém) ”. Outro princípio: “O comportamento de alguém não é a pessoa (aceite a pessoa, transforme o comportamento) ”.
E muitos outros.
Em PNL pensa-se em termos de sistemas, isso significa uma atenção extraordinária para a ecologia. A ecologia adquire aqui um significado muito maior que o habitual – todo o comportamento e transformação devem ter em conta a harmonia global, as relações internas entre as nossas “partes”, a nossa relação com os outros e o mundo. Ter sempre em conta que toda a transformação particular influencia o sistema. Uma transformação que vá contra um elemento dentro do sistema leva facilmente à sabotagem da transformação.
A PNL é possivelmente, uma das metodologias de transformação e crescimento pessoal mais espalhadas no mundo. O que não é para admirar. É uma metodologia da comunicação. As aplicações da PNL são inumeráveis, pois como se diz, “é impossível não se comunicar”.
Como crescimento pessoal acentua-se o processo. Não há fins, o fim é em si mesmo o “caminho”.
Definida como a ciência e a arte da “modelagem da excelência”, está sempre à procura das técnicas mais aprimoradas de desenvolvimento pessoal.
Tem também a ver com a tomada de posição e responsabilidade individual em relação a nós mesmos e à nossa relação com o mundo. É uma metodologia humana ao serviço do crescimento individual na vida privada e no trabalho, na relação com os outros, para a criação dum mundo melhor.
J.F. (2001, revisto)