Uma vez na ilha dos Salgueiros Chorões, vivia Mi Yang o solitário. Ao longe, sobre a margem oeste, as nuvens espessas pairavam sobre os tectos da aldeia onde moravam dois jovens loucos. Eles amavam este homem, sobre a ilha, como seu pai nutridor. Cada tarde quando aparecia o vento, eles empurravam o seu barco para a água e através das correntes agitadas iam visitá-lo. Eles sentavam-se diante da fogueira. Escutavam Mi Yang falar. Eles tomavam o seu leite de sabedoria como recém nascidos no peito da mãe. Quando o velho homem se calava, pemaneciam durante muito tempo em silêncio, de olhar perdido, e a boca aberta, depois perto das brasas moribundas eles aproximavam a cabeça às suas mãos para a benção da noite e regressavam à sua aldeia, remando devagar, e a lanterna agitada através do nevoeiro doce da noite.
Um dia, o barco não estava ancorado no cais. Ele tinha partido sem os levar, se calhar só,
à deriva, talvez desatado por algum vizinho. Eles viram Mi Yang na sua ilha que acenando com a mão lhes gritava: " Venham!" Saberia ele ou não saberia que eles não podiam ir ter com ele? Eles aproximaram-se das ondas, assustados, mais desvalidos que dois vagabundos á beira dum abismo. Eles gritaram.
- Pai Mi Yang!
Eles tinham fome das suas palavras, mas também do seu velho e sábio olhar, da sua lentidão, dos seus silêncios, das suas muitas rugas risonhas nos cantos dos seus olhos amorosos, e do seu cheiro, um pouco acre de erva, misturada com madeira queimada.
- De que é que têm medo, jovens criaturas? gritou Mi Yang da margem da ilha.
A atenção cativa pelo velho homem que lhes fazia sinais rindo, rindo enquanto eles avançavam, eles atravessaram a margem da água, deram um passo, depois dois, depois trés.
Talvez a maré se tenha comovido da sua alegria inocente, talvez o seu desejo de ir os fez esquecer de ponderar. Cambaleantes sobre as ondas cinzentas, desajeitados como duas crianças de pé pela primeira vez, as mãos abertas e os braços esticados, ali sobre a margem da ilha, eles atravessaram a corrente. A água apenas molhou as suas sandálias. Então Mi Yang, extasiado, disse a estes jovens, que vinham a ele, como ladrões de milagres:
- Vejam como o amor vos transporta, crianças abençoadas dos meus velhos dias! Ele só, pode tudo, as palavras são vazias se ele se ele não lhes dá a vida! Porque não tenho eu que desejar aquilo que vocês sabem fazer tão bem! Eu caminharia também sobre a água, eu que não sei mais que delirar, acender a minha fogueira, coser a minha sopa e dizer verdades simples a jovens loucos sem preocupações!
1 comentário:
Como eu concordo com estas palavars «O amor pode tudo, as palavras são vazias se ele não lhes dá vida».
Obrigada pela linda história.
Mena Almeida
Enviar um comentário