sábado, 20 de novembro de 2004

Poema

Se fixarmos os olhos no horizonte e estivermos em estado de deixar que a nossa mente se esvazie, desaparecemos no nada, contam-nos alguns poetas do Significado.
O nada é o vazio.
Quando há vazio, cala-se o pensamento que é o resultado do passado. E só quando se cala o passado, então não há limites - desabrocha a consciência, o Significado, a inteligência criativa - dizem-nos antigos Mestres.
O passado actual é feito, entre outras coisas, de comunicação - o estar sempre presente por toda a parte com o telemóvel.
A questão é que quanto mais se quer estar em toda a parte, mais se está em lugar nenhum - mais se é prisioneiro do passado.
Um pai sentado à beira duma fonte com a sua filha ao lado, uma menina com olhos côr de arco-íris, deliciada com um gelado... O pai telefona do seu telemóvel. Onde está o homem? Está aqui e agora presente com aquele Anjo ao seu lado ou com a Cultura actual que é passado?
Encontramo-nos no ponto onde a nossa consciência se concentra.
Sempre ao telefone, num àmanhã sem história em busca duma nova história, sempre no àmanhã ao telefone.
É isso que queremos?
E como se combina isso com encontrar o vazio, esvaziar o passado que é sempre limite, comer um gelado, aqui e agora, com a minha menina com olhos côr de arco-íris?

Sem comentários: