segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Falando do medo

O medo começa quando se recebe um nome
E se não percebe porquê.
E mais tarde dizem-nos que esse é o nosso nome
E a gente continua sem perceber porquê.
A situação agrava-se quando nos dizem
Que temos um nome e porque temos um nome
Temos que corresponder ao nome que nos puseram.
E continuamos sem saber porquê.
O medo só existe
Enquanto assumimos o nome que nos puseram.
E o medo perpetua-se mesmo que a gente pense que
Ao mudar de nome
O medo desaparece.

Ora há (com certeza entre outras formas)
Uma última maneira de perder o medo. Que não é definitiva aliás.
Mas dá um vislumbre duma plenitude sem medo
Que é uma plenitude sem nome.

E para isso o poema não chega.
Para se atingir o fim do medo
É preciso acção, a diferença que faz a diferença.
Por exemplo, a purificação dos sentidos,
Dez, vinte, trinta dias no isolamento do mundo,
E mais nada, sem palavras sem sons e estímulos industriais.
Pelo menos dez dias.
E depois numa noite no deserto da vida
Absolutamente só imaginando-se o único ser da terra
Contemplar o firmamento
E dizer então o seu nome, não o nome que lhe deram
Mas o seu nome verdadeiro na vastidão do vazio cósmico,
O seu verdadeiro nome:
EU!

José Figueira

Sem comentários: