Doutor, acho que estou com problemas de atenção. Não consigo me fixar numa coisa só. Até no jogo de tênis, esporte que sou muito bom, eu me distraio na hora da partida, com todas aquelas pessoas me olhando. Fico assustado. Dá um branco e eu erro tudo.
Meu treinador me diz:
“Ô rapaz, você tem que jogar assim e assim... aí tu vence teu adversário. Pode acreditar. É só fazer como eu to lhe dizendo.”
Aí eu tento fazer como ele me diz ....mas na hora trava tudo. Não sei mais como era pra fazer. Eu me perco e perco a partida. Fico de cara comigo mesmo.
Na escola eu também me distraio com qualquer coisa. Leio e não fica na cabeça.
O que o Sr. Acha que eu devo fazer?
Você já jogou em duplas?
Sim. Já. Por quê?
Porque é diferente de jogar sozinho. É mesmo muito diferente. É bem diferente. Você precisa não só saber de si como saber de teu companheiro. Os dois jogam um com o outro contra os outros dois do outro lado da rede.
É de um lado tem dois, uma dupla, com cada um jogando com o outro e do outro lado outros dois fazendo a mesma coisa.
E quanto melhor cada dupla se entender entre si melhores condições vão ter de jogar com a outra dupla e ganhar a liderança da disputa.
É.
Se você reparar bem nunca joga sozinho. Você joga acompanhado por si mesmo. Você e você mesmo. Se os dois não jogam em dupla, pára tudo. É como se os dois tentassem pegar junto a mesma bola e acabam se atropelando ou ao contrário, um fica esperando pelo outro e a bola corre no meio , livre e solta. Ninguém rebate. Ou ficam tão preocupados com o modo como o outro vai fazer que não têm atenção para os do outro lado da rede. Uma boa dupla jogando parece que é uma única pessoa. Um sabe onde o outro vai estar, mesmo sem falar. É uma comunicação incrível.
É mesmo. Se entendem só no olho e no modo como se movimentam em quadra.
Tô entendendo.
É como se a gente, mesmo individualmente, jogasse em dupla consigo mesmo....eu acho que muitas vezes eu me sinto muito sozinho em campo....minha auto estima fica muito baixa. Não me sinto jogando comigo mesmo numa boa contra o adversário.
Afinal a palavra auto-estima vem de fazer uma estimativa de si mesmo. O eu apreciando o eu mesmo. Auto estimar-se é como fazer uma idéia de si. Isso não dá pra fazer quando a gente se sente sozinho em relação a si mesmo e precisa dos outros para dizer como a gente deve ou não agir.
Cada um de nós se comunica consigo mesmo jogando em duplas, sendo uma parte a idéia, a consciência e a outra a ação. A idéia dos outros não pode comandar a ação da gente mesmo. Por isso idéia e ação vêm juntas como uma dupla desde que a gente se conhece por gente. A interação humana é assim como um jogo de duplas entre o eu e o outro.
Não é o teu treinador lá fora, um estranho, que vai dizer a primeira e nem a ultima palavra a respeito do modo como você vai jogar. Existe uma espécie eu interior que se comunica com você como uma voz, imagem ou sensação orientando suas jogadas. A pergunta é como cada um de nós tem acesso à esse eu interior. Te treinador interno. Esse não é um estranho. Quando nossa cabeça recebe instruções que não vem da nossa cabeça ela tranca ou rejeita. É uma espécie de mecanismo de defesa contra idéias estranhas. Aí a gente tranca. Só vai adiante quando a gente instrui a si mesmo. Que nem aquela história do burro empacado que só obedece a voz do dono.
Alem disso a intenção do jogo tanto no plano interno quanto externo é a cooperação. Aí fica ainda mais interessante, pois erro ou acerto tem o mesmo valor: a aprendizagem.
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