JOSÉ FIGUEIRA

-----Eis senão quando me deparo a deliciar-me, verdadeiramente, com o embargo das vozes. Deixam de ser importantes as palavras que se proferem e passam a ganhar vida os sentimentos o que elas transportam. A melodia que nasce cada vez que deixam escapar mais meia de dúzia de palavras… E quando trazem um sorriso?
----Que lindos os sorrisos que transportamos. Já deram conta de que quando sorrimos os olhos brilham? A boca desenha um rasgo de luz no nosso rosto, que percorre todos os sentidos. E existem por ai sorrisos tão bonitos… Todos nós os conhecemos. E o que faz mover um sorriso? O que lhe dá asas?

O sorriso é o maior triunfo da autenticidade. Quem não deixa transparecer no seu sorriso o que lhe vai na alma? Sim, pois o sorriso ao rasgar de luz o nosso rosto, mostra o seu brilho e luminosidade… Uns nascem apagados, outras gostam da média luz, depois há também os sorrisos que trazem o brilho do dia soalheiro da Primavera e ainda os calorosos como os dias de Verão que temos conhecido… Os sorrisos…
E quando me delicio com a melodia do embargo das vozes e da cor e forma dos sorrisos, eu própria sorrio… E também esses sorrisos me levam mais além, percorrendo os confins da minha existência, como se um doce eu levasse a cada um dos sorrisos que me habitam.
E o que faz mover um sorriso?
Porque sorrio eu? Porque sorris tu?
Quando observo os sorrisos, minuciosamente e com muito cuidado, escutando o meu próprio sorriso, percebo o que move o dos outros…
Um sorriso triste não deixa de ser um sorriso e a sua pretensão é quase sempre esconder a dor que transporta.

Outros sorrisos não são tristes, contudo estão quase todo o tempo encarcerados, escravos de uma conduta de vida. Querem soltar-se! Nunca os viram?
Existem os sorrisos atrevidos, sempre prontos a aparecer… Parecem as meninas que passam tanto tempo ao espelho sempre à espera da última festa na berra para aparecerem…
Existem os tímidos: Deixaram de sorrir há tanto tempo, que a vergonha que os transporta transparece em todos os sorrisos que se querem soltar. E ainda duvidam que traga cor? Reparai no sorriso dos tímidos, que de tão contido, deixa transparecer, para mal dos pecados dos tímidos, o ligeiro ou menos ligeiro rubor nas faces…

Existem os sorrisos sedutores. Que acompanhados de uma forma de olhar particular não perdem a oportunidade de seduzir outro sorriso…
E existem também os que se soltam com a estridente gargalhada… Potenciais libertadores de uma miscelânia de sentimentos… Reveladores da capacidade que temos de nos libertarmos de tudo o que vamos recebendo e aprisionando dentro dos nossos sorrisos… Assumem uma atitude tão impossível de controlar, que eu diria mesmo que as orelhas se mostram impotentes a tal força deixando-se movimentar, o couro cabeludo estremece de susto, os olhos cerram-se perante tal espectáculo como se fosse imperdoável soltar uma valente gargalhada… Puro, mágico, inquietante, perturbador, por vezes, autêntico, potente, incontornável: ai o temos na sua magnitude… Fantástico!
Existem os sorrisos ternos, com tanto carinho que as bocas quase se assemelham a um suspiro de pastelaria. Vêm quase sempre acompanhados pelos beijos, abraços, carinhos… Enfim, um doce meus caros…
Existem sorrisos escondidos… Ainda que se não vejam às claras, existem. Gosto de os descobrir… São um pouco enigmáticos e não queiram saber a felicidade que me traz quando se descortinam…
Existem os sorrisos… Eles existem!
Um sorriso é como um arco-íris que aparece depois da chuva, colorindo o nosso rosto de todas as cores. Contudo, pode ser solto, apreciado, repartido e sentido. Deixemos de ter a ilusão de crianças: de corrermos até à cauda do mesmo, com um baldinho na mão para trazermos as cores do arco-íris connosco…
Pintemos nós mesmos os nossos sorrisos com as cores de nossa alma. Deixemos transparecer nos mesmos o que nos move.
E se vos intrigar porque vos olho intensamente, parecendo que não ouço o embargo de vossas vozes, que não vejo a cor de vossos sorrisos, enganai-vos… Estou a deliciar-me com cada um deles…

Yola, 12 de Agosto de 2006