quarta-feira, 4 de julho de 2007

Ensinando o cavalo a voar



Vamos dividir a palavra preocupação em duas partes: pré-ocupação. Ou seja, ocupar-se de algo antes que aconteça. Tentar resolver problemas que ainda não tiveram tempo de se manifestar. Imaginar que as coisas, quando chegam, sempre escolhem seu pior aspecto. Há, é claro, muitas excepções.
Uma delas é o herói desta pequena história:
Um velho rei da Índia condenou um homem à forca. Assim que terminou o julgamento, o condenado pediu-lhe:
- Vossa Majestade é um homem sábio e curioso a respeito de tudo que os seus súbditos conseguem fazer. Respeita os gurus, os sábios, os encantadores de serpentes e os faquires. Pois bem. Quando eu era criança, o meu avô transmitiu-me a técnica de fazer um cavalo branco voar. Não existe mais ninguém neste reino que saiba isto, de modo que a minha vida deve ser poupada.
O rei imediatamente mandou trazer um cavalo branco.
- Preciso ficar dois anos com este animal – disse o condenado.
- Você terá os dois anos – respondeu o rei, nesta altura já meio desconfiado, mas se este cavalo não aprender a voar, você será enforcado.
O homem saiu dali com o cavalo, feliz da vida. Ao chegar a casa, encontrou toda a família em prantos.
- Você está louco? – gritaram todos, desde quando alguém desta casa sabe fazer um cavalo voar?
- Não se preocupem – respondeu ele. Primeiro, nunca hove quem tentasse um cavalo voar e pode ser que ele aprenda. Segundo, o rei está muito velho e pode morrer nesses dois anos. Terceiro, o animal também pode morrer e eu conseguirei então mais dois anos para treinar um novo animal. Isso sem contar a possibilidade de revoluções, golpes de Estado, amnistias gerais etc. E finalmente, se tudo continuar como está, eu ganhei dois anos de vida, e neles poderei fazer tudo o que tiver vontade. Vocês acham pouco?

Paulo Coelho, no livro "Histórias para pais, filhos e netos"
ENVIADO PELA NOSSA COLABORADORA: CARLA AFONSO

1 comentário:

Salseira disse...

Num mundo tão inseguro e com tantas incertezas como aquele em que vivemos hoje, esta é uma bela mensagem.

Não vale mesmo a pena sofrermos por antecipação, ou viver em ansiedade com medo do futuro.

Viver aqui e agora e aproveitar ao máximo todos os minutos é que é nos traz a felicidade.