A única conclusão a que, legitimamente, se pode chegar é a de que o "eu" é uma ficção, uma simples etiqueta colada aos agregados, um conceito criado e coisificado pela mente, mas ao qual falta qualquer realidade substancial.
Contudo, este processo de raciocínio, só por si, não elimina a idéia do "eu"- limita-se a enfraquecê-la. Porque ela está tão profundamente enraizada, a idéia do "eu" só é eliminada através das repetidas meditações sobre as razões do não-eu, que permitem que o yogin se torne progressivamente mais familiarizado com o entendimento de que não existe um "eu" ou uma "essência".
O Dalai Lama conclui que "quando um tal entendimento é mantido e reforçado através da constante meditação e familiarização, você será capaz de desenvolvê-lo e de transformar tal entendimento numa experiência directa ou intuitiva." (in "Path to Bliss".)
Muitos ocidentais rejeitam esta noção, alegando que seria uma espécie de suicídio cognitivo. A ideia de que o "eu" (conceito que é assumido até mesmo por pessoas que rejeitam as religiões que o advogam ) não existe, é profundamente perturbadora para muitos não-budistas, mas no pensamento budista a negação do "eu" não é vista como uma perda mas, ao contrário, é encarada como uma visão profundamente libertadora.
Uma vez que a idéia inata do "eu" implica uma essência autónoma e imutável, se tal coisa fosse, de facto, o núcleo do nosso ser, isso significaria que seria impossível mudar, e ficaríamos amarrados e condenados a ser apenas aquilo que somos agora. Porém, e porque não há esse "eu", nós estamos abertos para o futuro. A nossa natureza nunca é fixa e determinada e, por isso, através do comprometimento na prática budista, podemos exercer controle sobre o processo de mudança e sobre o progresso na sabedoria, compaixão, paciência, e outras boas qualidades. Podemos, mesmo, tornarmo-nos um Buda, um ser totalmente desperto que é totalmente liberto de todas as fragilidades, sofrimentos e limitações dos seres ordinários. Mas isto só é possível porque não há nenhum "eu" permanente e estático, nenhuma alma que exista de forma auto-suficiente, separada do processo de mudança que está sempre em curso.
-- in A Concise Introduction to Tibetan Buddhism by John Powers, published by Snow Lion Publications
1 comentário:
Meditar é bom,
A meditação parece ser uma fronteira desconhecida por si só libertadora de tensões próprias de um “Eu” perfeitamente certo, conhecedor de crenças e convicções que nada servem quando a meditação as dispensam gentilmente.
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