Quando começo um novo training ou simples workshop costumo perguntar: - por onde vamos começar? Pelo passado, pelo presente ou pelo futuro? Cada uma destas alternativas costumo receber como resposta. Se começamos no presente, não sabemos para onde ir exatamente, qualquer direção seria um ato fruto do acaso da nossa história e desejos escondidos inconscientes. Começar no passado poderia levar a arqueologia psicológica de caráter introspetivo onde já se perderam tantos analistas. A resposta certa é começar pelo futuro. Temos então um rumo, uma direção, um foco, um porto para onde nos dirigir.
A questão não é tão simples como isso. A maioria das pessoas não conhece o porto aonde quer chegar…
O modelo básico para atingir resultados
A Programação NeuroLinguística é uma metodologia caracterizada por uma quantidade enorme de ferramentas direcionadas a soluções.
O modelo central empregue, de origem militar, contém o número mínimo essencial de elementos necessários para atingir objetivos. É conhecido como TOTE: Um gatilho (Trigger), o qual contém já os critérios de "sucesso", dispara a ação (Operate). Desde que os critérios sejam satisfeitos (no Test), o resultado é atingido (Exit).
Cada TOTE é geralmente formado por sub totes, sendo constituídos assim diversos passos dentro de um objetivo maior.
O que a PNL acrescentou
Ao primeiro passo do processo (Trigger/Test) foram acrescentadas em PNL as condições básicas de formulação de objetivos. O Operate refere-se aos processos mentais constituídos por representações sensoriais externas e internas (imagens, sons sensações) combinadas de certa forma e em determinadas quantidades (as submodalidades). Todas as técnicas desenvolvidas nesta metodologia, desde o seu aparecimento por volta de 1974, têm como fim a criação de uma estratégia mental, um conjunto de representações sensoriais devidamente organizadas e adequadas ao resultado. Ao Test final foi acrescentado ainda o controlo definitivo da ecologia e a consolidação do processo (future pace).
As condições de formulação
Na formulação de objetivos são empregues regularmente as condições muito divulgadas e conhecidas por SMART embora não sejam as oficiais da PNL.
As condições fundamentais podem ser definidas por 5 regras básicas:
- definição do objetivo de forma positiva, formulação precisa em termos sensoriais, temporizado e contextualizado, sob controlo próprio e ecológico.
É comum falar-se em termos de “frames”. Assim temos basicamente, entre outros, um frame de outcome, de evidência, e de ecologia.
Importantíssimos, muitas vezes não totalmente compreendidos ou utilizados, são a formulação positiva e o aspeto ecológico, a que darei aqui uma maior atenção.
Objetivos e valores
Qualquer objetivo que se queira atingir, embora em geral as pessoas não tenham consciência disso, tem como fim realizar um significado pessoal (um Valor). Mesmo que esse significado esteja consciente, por detrás de um significado esconde-se um significado maior. Talvez seja por isso que a realização de um objetivo, muitas vezes acaba em frustração. Não satisfaz porque o que a pessoa verdadeiramente pretende é algo maior de que em geral, como disse, não está consciente.
Há mais razões pelas quais a realização de um objetivo pode não satisfazer levando à procura obstinada de novas realizações e compra de novos produtos como é característico na sociedade capitalista em que vivemos. Todas as razões de possível insatisfação têm muito provavelmente a ver com o seguimento cego do reclame e a inconsciência das pessoas sobre aquilo que realmente as interessa.
A ecologia e os objetivos
Na perspetiva ecológica manifesta-se um aspeto essencial dos valores quando falamos de objetivos.
Ecologia tem a ver com resultados não desejados. Quando se quer atingir um objetivo é costume perguntar-se: - quanto quer pagar por isso? Às vezes o preço é muito alto, aquilo que se perde é superior aos ganhos. Valores a realizar entram em conflito interno com valores que seriam perdidos no caso de o objetivo ser realizado.
Sempre que se adiam tarefas, se desiste de um objetivo, nos distraímos com outras atividades, nos “sabotamos”, está em jogo um problema ecológico qualquer. Este é um dos fundamentos da inquietação interna e exige muito mais atenção e tomada de consciência do que uma simples injeção de motivação.
A flexibilidade psicológica, que é o objetivo fundamental da PNL, consiste na tomada de consciência progressiva da nossa realidade subjetiva com o fim de aumentar as nossas possibilidades de escolha, as quais, se tivermos em conta o que se diz em neurociência, já são em si menores do que as pessoas pensam.
Sobre o pensamento positivo
Continua a insistir-se muito no pensamento positivo. Claro que faz toda a diferença. Mas conhecemos as dificuldades e não temos consciência real do que o impossibilita. Não se adquire pensamento positivo por tomar uma “aspirina”. Na sociedade atual habituámo-nos a resolver tudo com aspirinas.
No fundo o “pensamento positivo” é praticamente uma impossibilidade. A nossa mente racional não se desenvolveu no decorrer de milhares de anos para pensar positivo. Pelo contrário, desenvolveu-se para ver perigo em todo o lado, proteger-nos da dor, lutar, fugir. O nosso diálogo interno não faz outra coisa senão comparar, criticar, analisar, julgar. Tudo como proteção. O que significa que a maioria de nós, o que queremos é: não sofrer, não ser fragilizado, não ser mal visto, não se sentir só, não estar triste, não ter ansiedade… pois é para isso que a mente pensante e racional se desenvolveu. No mundo material é muito útil para nos prever do perigo, mas no universo pessoal e nas relações pode ter consequências trágicas.
Esta concentração no “perigo” (baseada em experiências traumáticas do passado e invenção de ameaças no futuro) acaba por criar as nossas verdadeiras representações internas de que queremos fugir e exige de nós: gritar cada vez mais alto “pensamento positivo”, ler mais livros de autoajuda e frequentar cursos atrás de cursos. Não é que não ajude. Mas como o animal homem não foi feito para pensamento positivo, isso vai exigir portanto muito esforço.
A questão é que ao dirigirmo-nos ao que não queremos (e a maioria de nós dirige-se inconscientemente ao que não quer), acabamos por receber de presente aquilo em que (inconscientemente) nos focalizamos, aquilo que afinal não queremos.
O processo de tomada de consciência
A PNL não é propriamente uma metodologia do pensamento positivo. Em PNL estudamos e consciencializamo-nos destes processos mentais para aumentar a nossa flexibilidade psicológica, flexibilidade esta que é destruída quando nos associamos ao pensamento e acreditamos que a linguagem é a expressão de factos.
Nós não somos o que pensamos. O pensamento é um produto e o que diz sobre nós não é o “território”. É, quando muito, um péssimo “mapa” de nós.
A tomada de consciência dos nossos próprios processos mentais, a paragem nada fácil do nosso piloto automático de ação e reação, exige uma dissociação muito mais radical do que aquilo que popularmente se fala em PNL. Não é por acaso que uma formação básica consta de um practitioner training (16 dias full-time) e master practitioner training (21 dias full-time) para além de trabalho de casa obrigatório.
E depois disso há ainda toda uma vida para nos irmos “desenvencilhando”.
Metáfora:
“A bola de oiro”
Uma história que um dia ouvi, não sei já onde, e me ficou na memória:
Um rei deu à sua filha linda, loira e de olhos azuis, uma bola de ouro no dia do seu aniversário.
A partir de então a princesa brincava com a bola sempre que se sentia triste ou alegre, inquieta ou tranquila, serena ou apressada…
Ela rolava a bola na terra, atirava-a contra a parede acolchoada do palácio, contemplava-a na concha das suas mãos e o maior prazer era atirá-la ao ar, na direção do sol e extasiar-se com os seus reflexos brilhantes… mas ia procurando sempre novas maneiras para encontrar respostas.
Até que um dia… aconteceu.
O modelo dos níveis neurológicos
O modelo conhecido como “níveis(neuro)lógicos de comunicação é um modelo da PNL que pode ser usado para esclarecer a comunicação, uma intervenção, ou qualquer problema, sistema organizacional, transformação, um tema tal como este dos “objetivos”, etc.
Essencial no modelo é a relação que é feita com os valores, o sentido pessoal de identidade e o objetivo de vida (ou o que andamos cá a fazer).
O sentido de qualquer objetivo, grande ou pequeno, em qualquer contexto, encontra-se na sua relação com a missão do indivíduo, com o seu significado de vida. Quando essa relação hierárquica não está em harmonia, falamos de falta de alinhamento ou incongruência. O resultado é uma sensação contínua de desconforto que necessariamente exigirá compensações na forma de “droga” ou outro produto mais socialmente aceitável.
Que fazer? Algumas sugestões
Primeiro que tudo é não levar a sério os pensamentos, não se levar muito a sério, o que nos facilita a dissociação.
Segundo, perceber que qualquer objetivo existe em função de um objetivo maior e se tivermos consciência do objetivo maior possivelmente descobrimos que há mais caminhos para lá chegar do que o objetivo a que muitas vezes nos agarramos.
Terceiro, descobrir o que nos move realmente, o que andamos cá a fazer, quais são os nossos valores fundamentais (não os socialmente corretos). Não só o conhecimento dos nossos valores mas uma consciência plena dos nossos traços psicológicos naturais ajuda-nos muito nas nossas escolhas.
Quarto, ser honesto e tomar decisões na vida de acordo com aquilo que se vai encontrando como sendo o significado de vida. Aliás, uma tomada de consciência contínua da nossa experiência subjetiva e do nosso próprio funcionamento leva, penso eu, a uma relação de honestidade cada vez maior connosco e com os outros.
Quinto, estar então cada vez mais em estado de escolher livremente quando quer levar a sério ou não a sua mente consciente, observar as emoções de forma dissociada, e realizar os seus objetivos nos contextos que escolheu no quadro daquilo que acha que é a sua razão de estar no mundo
(J.F.)
Agenda
Tertulia - Objetivos de vida a 4 de Junho
Introdução à PNL - em Faro a 16 e 17 Junho
O meu lugar no mundo (coaching com o Panorama Social) a 30 de junho e 1 de julho
Introdução à PNL - no Estoril 7 e 8 Julho
Practitioner intensivo de verão - a partir de 29 de Julho
Practitioner por módulos - a partir de 7 de Setembro (Estoril) e 13 de Setembro (Porto)
Master practitioner - a partir de 11 de Outubro
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