Revista mensal online de Programação NeuroLinguística
Ano 2 – 07, AGOSTO/SETEMBRO 2012
PNL e qualidade de vida
________________________________________________________
O que é “qualidade de vida”?
Para além dos termos populares como “sucesso” e “excelência” usados em larga escala, diz-nos a PNL concretamente e explicitamente algo sobre este assunto? O que se pode acrescentar, se isso é possível, que não seja só uma repetição das conhecidas contribuições desta metodologia para uma comunicação mais eficaz?
Podemos complicar, podemos ser simples.
Responda o leitor ele mesmo:
- O que é preciso acontecer para que possa dizer, no fim da sua vida, que valeu a pena viver? O que o pode fazer morrer com orgulho (por ter deixado o que deixou aos seus filhos e às próximas gerações)?
Se não queremos ser tão mórbidos, podemos então fazer um pergunta mais situada no aqui e agora e que, aliás, vai dar no mesmo:
- O que é que realmente pode produzir em nós uma sensação de autorrealização total e preencher assim o significado maior de vida? O que me faz atribuir à minha vida a clasificação “qualidade”?
Subjetividade e emoções
Tanto a palavra “qualidade” como a palavra “vida” são substantivos de caráter abstrato e portanto de interpretação múltipla e subjetiva. São o tipo de palavras cujo conteúdo não pode ser transportado num carrinho de mão, como se diz na gíria da PNL.
Tal como “sucesso”, “êxito”, “bem-estar”, no fundo, do que se trata aqui, é da vivência de uma emoção que satisfaça o cliente dando-lhe a sensação que vive uma vida que vale a pena ser vivida.
E já Bandler dizia: - "A pessoa de sucesso é aquela que consegue aceder aos melhores estados emocionais". Os estados emocionais jogam um papel central em PNL. E, quando falamos de qualidade de vida, falamos de emoções desejáveis consideradas como altamente significativas para a pessoa em questão.
Possíveis abordagens
Talvez possamos abordar o tema “qualidade de vida” criando modelos, cada modelo com a sua própria definição implícita ou explícita de qualidade e o respetivo método para a sua realização.
- Podemos falar, por exemplo, do socialmente correto: casa, bom carro, família feliz, conta recheada no banco, férias com ar puro, cruzeiro, cão de guarda, amigos, vinho e sardinhada, etc.. Nada contra este modelo se não nos apegarmos de tal forma que se torne a única realidade limitando a nossa potencialidade e todas as nossas possibilidades de desenvolvimento. Certamente que, a este nível, é possível criar critérios de qualidade que satisfaçam os gostos dos respetivos grupos de clientes no mercado do bem-estar.
- Ou podemos tratar o assunto a partir de convicções esotéricas que funcionam como padrão externo ou internalizado de avaliação de qualidade, seja Deus e os seus mensageiros, um guru indiano ou uma abstração cor-de-rosa tipo Amor universal, ou outra qualquer entidade ou conceito abstrato feito ou não de energias cósmicas, o que na verdade pode servir de referência para o preenchimento do significado de vida de muita gente;
- Talvez, pura e simplesmente, tentar cessar a forma inconsciente do piloto automático de viver que é a nossa forma “normal” e vivenciar conscientemente o aqui e agora partindo de um mindfulness radical ou conjugá-lo com os nossos valores essenciais;
- Podemos também imaginar com qualidade, como é comum nas abordagens do pensamento positivo;
- Ou, para finalizar, utilizar o modelo de PNL que esclarece e ajuda à realização da congruência (neuro)lógica.
O que se apresenta acima são modelos. Na prática as pessoas empregam e manifestam nas suas vidas, em maior ou menor grau, elementos de cada um dos modelos. E claro que não há objeção contra cada modelo em particular desde que a pessoa se não refugie na ilusão de que são verdades! Cada modelo é funcional dentro do seu próprio paradigma e é capaz de levar o indivíduo ao “céu” da sua própria imaginação.
No meu entender, com todo o respeito e consciente das possibilidades enormes dos abundantes dois primeiros modelos na produção de sensações aprazíveis, escolho por abordar o tema da “qualidade de vida” utilizando os três últimos modelos:
- Mindfulness (forma de atenção e vivência intencional do momento sem julgamentos) ajuda-nos a corrigir muitos dos filtros que usamos na perceção do mundo. Para além disso põe em prática um princípio essencial da PNL que, se não for respeitado, debilita qualquer transformação – é a questão do “não”: se se diz “não”, recebemo-lo de volta. Mindfulness neutraliza a luta contra o “não” favorecendo a aceitação. Sem este passo inicial a transformação torna-se problemática e o stress tende a aumentar.
- Imaginar com qualidade tem a ver com as representações internas que fazemos de nós e do mundo. Em PNL concentra-se tudo à volta das qualidades sensoriais destas representações. Ainda mais: todas as ferramentas em PNL têm como fim criar uma representação mental que produza um estado emocional adequado.
- Para criar congruência, sentida como algo qualitativamente relevante e significativo, seja num contexto particular, seja na vida, faz-se em PNL, o “alinhamento dos níveis (neuro)lógicos”. Este alinhamento tem lugar horizontalmente através da unificação de subpersonalidades (chamadas “partes”) e, verticalmente, harmonizando os comportamentos com os seus motores inconscientes.
No seguimento deste texto concentrar-me-ei, sobretudo, nos modelos “imaginativo” e “congruência”, na medida em que é neles que assenta tradicionalmente a Programação NeuroLinguística.
Principais variáveis na realização da “qualidade de vida”
Axioma básico em PNL, possível de extrapolar para o tema “qualidade de vida”, é que tanto a sensação como a avaliação da sensação como positiva, não tem diretamente a ver com o mundo exterior mas com a nossa própria construção imaginária. Quer dizer: - Eu sou o único construtor da minha realidade, da consequente vivência emocional e da sua respetiva apreciação crítica.
Isto implica que sou o único responsável pela minha qualidade de vida. Sou responsável
- pelo que quero fazer da minha vida e dos objetivos que pretendo realizar;
- pelos meus conhecimentos e competências sociais e profissionais;
- pela saúde física e psicológica do meu corpo;
- pelas representações mentais de mim e do mundo;
- pelas crenças que tenho sobre o que posso e sou capaz, sobre mim como pessoa e sobre o mundo;
- pelos meus valores, qualidades, traços de caráter e preferências psicológicas;
- pela maneira como olho para mim sobre quem sou;
- pelo objetivo último da minha vida;
- pela integração harmoniosa de todas as componentes em que assenta o meu Ser.
Realizando qualidade de vida
Inspirando-me na PNL e, apesar da minha experiência, continua a não ser tarefa fácil resumir aqui a passagem à prática no caminho da nossa realização total como seres humanos tanto individualmente como na sua responsabilidade social, caminho esse que, no meu entender, forma o fundamento do que interpreto aqui como sendo “qualidade de vida”:
- Há que definir concretamente o que se quer em termos que se conjuguem com os nossos valores essenciais, tendo em conta a ecologia de todo o sistema, tanto interno como externo, o que exige uma investigação exaustiva de objetivos por detrás de objetivos até encontrar o objetivo último;
- Assumir uma postura física de acordo com os nossos ideais de realização total da qualidade;
- Conhecer e aplicar os elementos da estrutura da experiência mental subjetiva respeitante à construção de representações mentais. Quer dizer, conhecer os elementos básicos que constituem as nossas imagens mentais, designadas em PNL como as submodalidades (por exemplo, cor, tamanho, forma, localização das imagens, qualidades do som e das sensações táteis ou exclusivamente corporais) das modalidades sensoriais VACOG (visuais, auditivas, cinestésicas, olfativas e gustativas). E não basta conhecer, há que saber lidá-las;
- Adquirir os conhecimentos necessários e as competências sociais e profissionais adequadas;
- Perceber a estrutura de como a linguagem nos atrofia ou nos liberta, o que significa conhecer e aplicar, pelo menos, 3 modelos linguísticos da PNL: o modelo analítico (Modelo Meta), o imaginativo construtivo positivo (Modelo Milton) e o ressignificativo (SOM);
- A maioria das pessoas não tem a mínima noção de que o que pensam sobre os outros, sobre si e sobre o que são capazes, são simplesmente expressões linguísticas de crenças pessoais que nada têm a ver com verdades. A tomada de consciência permite discernir o valor limitador ou ilimitado das crenças pessoais;
- Para falar dos valores, os motores inconscientes determinantes da nossa vida, mesmo aplicando o critério da simplicidade, precisaria de algumas dezenas de páginas. Importante mencionar aqui é que a grande maioria das pessoas desconhece o que é importante para elas. Nem eu mesmo estou ainda seguro dos meus valores fundamentais, nem sei se alguma vez o virei a estar totalmente. E são estes mesmos valores que determinam o nosso grau de satisfação na vida! Há valores mais importantes escondidos por detrás de valores, o que permite desilusões mesmo após objetivos realizados com relativo sucesso. Há, para além disso, valores opostos dentro da mesma pessoa, valores com o mesmo conteúdo emocional, o que leva a conflitos internos e, às vezes, à impossibilidade para tomar decisões. Há ainda subtis direções relativas ao diferenciamento na realização de valores, o que faz com que muitas pessoas se dirijam ao que não querem e acabam por recebê-lo de presente;
- É muito conveniente pesquisar e harmonizar mensagens internas de desconforto resultantes de aspetos da personalidade em conflito e resolver medos, traumas e ansiedades com origem no passado e que possam obscurecer e desformar a informação no presente;
- Conhecer o perfil psicológico, os traços de caráter (os “meta programas” como são definidos em PNL) é fundamental. Sem isso não se sabe com quem se é feliz, onde a gente se sente bem, que atividades são relevantes ou que espécie de trabalho nos dá prazer;
- E apreciaremos o nosso grau qualidade de vida relatando-o à autoimagem que temos de nós. Dois extremos: - É a vida que levo digna de mim ou sou eu digno da vida que levo? A questão é que a autoimagem que temos de nós é também uma construção e nunca corresponderá ao que realmente somos. Somos sempre mais do que aquilo que pensamos que somos.
E, o último passo no modelo dos níveis (neuro)lógicos em PNL:
- Qualidade de vida tem a ver com o alinhamento total, a harmonização final de objetivos de ação em conformidade com conhecimentos e competências, crenças, valores, perfil, autoimagem e significado último da existência. É harmonizar-se com o objetivo último da nossa vida, o significado mais transcendente. Isso é, em si mesmo, um programa de vida. É a realização da resposta à pergunta: - Porque está aqui?
Quanto tempo tem ainda?
Sejamos honestos.
Se a vida consta, em média, de 28.000 dias, tire-lhe os dias que já viveu. Do que lhe resta, passa X horas a dormir. Subtraia essas X horas, traduzidas em dias de sono, aos dias que tem para viver. Do restante, calcule e diminua ainda os dias em que é obrigado a fazer coisas que não conduzem necessariamente à sua realização pessoal, prazer de viver e qualidade de vida mas que são absolutamente necessárias para a sobrevivência. Se tiver tido a coragem de fazer as contas, conte então a si mesmo, exatamente, o tempo que lhe resta para (continuar a) dar significado à sua vida.
O próximo passo que se dê ou não… é da nossa inteira responsabilidade. Penso que ninguém neste mundo, nem no outro, decidirá por nós!
José Figueira
Sem comentários:
Enviar um comentário