segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A prática da qualidade de vida

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Revista mensal online de Programação NeuroLinguística
Ano 2 – 09, OUTUBRO 2012
A prática da qualidade de vida
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O que é a PNL?
É o estudo do funcionamento da mente e de como podemos utilizar os resultados desse estudo para a realização prática dos objetivos fundamentais que dão significado à nossa vida, ajudando-nos a realizá-los de forma mais fácil e em harmonia com os nossos valores fundamentais, respeitando os outros à nossa volta e contribuindo para um mundo melhor (J.F.).

Resumo do número anterior
No número anterior desta revista (“PNL e qualidade de vida”) escolhi, entre as diversas possíveis abordagens de um tema tão subjetivo como este, a abordagem imaginativa (central em PNL) e a congruência neurológica. Fundamentalmente quer isto dizer que somos nós próprios, individualmente, os únicos responsáveis pela nossa própria definição, vivência e avaliação da qualidade e somos os únicos responsáveis pela nossa organização e harmonização interior com vistas à sua realização.

O cerne da questão
Do que se trata essencialmente em PNL é de estados emocionais. Toda a epistemologia e ferramentas da PNL têm um único fim: ajudar as pessoas a aceder a “melhores” estados emocionais. Toda a nossa existência é possivelmente determinada pelo princípio do afastamento do que consideramos desagradável e a tentativa de realização do que esperamos nos dê prazer. Portanto, tudo em nós tende para o afastamento ou neutralização de emoções negativas e para a realização de emoções positivas. O que pensamos e realizamos fazemo-lo na esperança de evitar desconforto e realizar sensações agradáveis experimentadas como positivas. Aliás, aquilo que pensamos e realizamos é, por sua vez, determinado pelo estado emocional em que nos encontramos. Em linguagem popular: uma pescadinha de rabo na boca!

A solução em PNL
Como o nosso fim é sentirmo-nos bem e como tudo está dependente do estado emocional, há que criar estados emocionais adequados. E como o estado criado é considerado ser o resultado direto do nosso pensamento (das chamadas modalidades sensoriais ou representações internas feitas de imagens, sons, diálogo interior), todas as intervenções com ferramentas da PNL têm como objetivo trabalhar o pensamento. Isso faz-se diretamente através da substituição das características das imagens e dos sons (transformação de submodalidades sensoriais como cor, tamanho, movimento, localização, etc). Faz-se também através da modificação de sensações simples e primárias no corpo (temperatura, intensidade, localização e movimento da sensação, etc.). Qualquer outro tipo de intervenção ou utilização de uma técnica específica (tais como âncoras, posição percetiva, reenquadramento, linha do tempo, etc.) acabará por ter como resultado final a transformação do pensamento (representações internas).

Responsabilidade pessoal
Como foi dito no número anterior da nossa revista, independentemente de como o mundo exterior se nos apresenta, não pomos as causas do nosso possível mal-estar no mundo. Fazemos em PNL uma escolha pela adoção de convicções favoráveis para nossa realização pessoal: partimos então do princípio de que somos nós os únicos responsáveis pelos objetivos que realizamos ou não, pelo desenvolvimento dos nossos conhecimentos e competências sociais e profissionais, pela nossa saúde física e psicológica, pelas representações mentais que fazemos de nós e do mundo, pelas crenças que temos sobre o que podemos e somos capazes e pelo que pensamos do mundo, pelos nossas qualidades, traços de caráter e preferências psicológicas, pela maneira como olhamos para nós e sobre quem somos e o que queremos ser, pelos nossos significativos objetivos últimos de vida, pela integração harmoniosa de todas as componentes em que assenta o nosso Ser. Cada um é responsável pelos óculos que usa e pelo que faz para transformar para melhor o mundo que nos rodeia.

A prática da qualidade de vida
A PNL concentra-se no estudo e transformação das nossas representações mentais através da modificação das características sensoriais das imagens e dos sons (incluindo as palavras do diálogo interno) e transformando as características das sensações experimentadas no corpo. Ou utiliza um método direto de transformação (trabalho com submodalidades sensoriais), ou toda uma gama de técnicas que levam indiretamente ao mesmo resultado. Para além disso concentra-se na formulação adequada de objetivos, dá atenção ao elemento somático, investiga as consequências e faz uso consciente de padrões linguísticos, dá muita atenção ao papel dos valores e das crenças, trabalha diretamente com memórias emocionais, tem em conta os perfis psicológicos responsáveis por padrões de pensamento e comportamento essenciais na comunicação, harmoniza conflitos internos e ajuda o individuo a encontrar o seu balanço na realização do seu significado de vida.

Objetivos e qualidade
Melhorar a qualidade de vida pode começar pela procura da resposta a esta pergunta fundamental: - O que anda cá a fazer? Há que definir concretamente o que se quer em termos que se conjuguem positivamente com os nossos valores essenciais, tendo em conta a ecologia de todo o sistema, tanto interno como externo, o que exige uma investigação de objetivos por detrás de objetivos até encontrar o que, nesse momento, é para si o seu objetivo último. Desde que tenha encontrado a resposta é então a altura de (re)organizar a vida de tal modo que tudo se conjugue na direção da realização daquilo que para si valha mesmo a pena.

Sobre a fisiologia
Para além dos cuidados básicos do corpo, talvez uma das coisas que nos ajude é ter consciência do papel que assume a postura corporal nos nossos estados emocionais. Há uma postura física que nos liga a fracassos e insatisfação assim como há uma postura que nos liga a sucessos e satisfação pessoal. Respirar profundamente, estar centrado, assumir interiormente uma atitude de dignidade e merecimento conduz a posturas que conscientemente podem ser assumidas para facilitar a congruência e auxiliar na manutenção de uma saúde física e psíquica.

Modalidades sensoriais
A qualidade da informação que chega até nós, assim como o sucesso na troca de informação com o outro, estão diretamente condicionadas pelos sistemas de representação ou modalidades sensoriais de cada um. É a consciência das nossas modalidades sensoriais preferenciais favoritas (visual, auditiva ou cinestésica) que pode ter implicações enormes para a qualidade sobre como nos apercebemos, vemos, ouvimos, sentimos e interpretamos o mundo. A consciência das nossas modalidades sensoriais prediletas fornece-nos informação sobra a forma de como filtramos pessoalmente a informação. Para além disso, é a nossa sincronicidade com os sistemas de representação (ou modalidades sensoriais) do outro que é, em grande parte, responsável pela qualidade e sucesso da nossa comunicação. Daí a extraordinária importância do conhecimento das modalidades sensoriais. Essa consciência facilita-nos a acuidade da perceção e a qualidade da nossa comunicação. O outro aspeto importante tem a ver com as características específicas das modalidades sensoriais (das imagens, sons, sensações) as quais são diretamente responsáveis pelas nossas emoções, de que iremos falar a seguir.

A imaginação produz emoções
A imaginação é o resultado de um estado emocional e produz, por seu lado, estados emocionais. PNL trabalha essencialmente com técnicas da área imaginativa para produzir estados. Podemos dizer que todas as nossas memórias (feitas de imagens, sons, sensações, palavras) são imaginadas a partir de acontecimentos, quer dizer, são interpretações feitas com base em distorções, generalizações e omissões. Como as características das imagens, dos sons e das sensações são diretamente responsáveis pelos estados emocionais, as técnicas básicas em PNL consistem essencialmente em sobrepor a uma situação desconfortável as características de uma situação confortável adequada, o que vai transformar radicalmente a vivência da situação. Encontram-se normalmente, nos livros de introdução à PNL, descrições destas técnicas que, na prática, parecem não ser assim tão fáceis de realizar para pessoas que nunca seguiram um curso oficial. Há pequenos ensaios que podemos fazer no nosso filme mental dos acontecimentos. Muitas pessoas já o fazem naturalmente. Podemos experimentar vivenciar uma situação vendo-nos no filme ou observando a imagem da situação sem nos vermos a nós. Podemos modificar a cor, o brilho, a localização mental aproximando ou afastando a cena, modificando o tamanho ou o movimento; podemos meter som ou tirar som, modificar o volume e o timbre; podemos deslocar a sensação no corpo e inverter o seu movimento… Qualquer modificação na estrutura da memória (na imagem, no som…) vai inevitavelmente modificar a sensação que temos do acontecimento…

Recursos
Para realizar o que pensamos ser importante para nós é obviamente necessário adquirir os conhecimentos necessários e as competências sociais e profissionais adequadas. Em PNL damos toda a nossa atenção a um outro ponto: Fundamental para o desenvolvimento e para o uso das competências são as convicções que temos sobre nós, sobre o que é importante e sobre o que somos capazes. Partimos do princípio que todos temos os recursos necessários para realizar o que desejamos. O problema é que não empregamos muitas vezes esses recursos. A razão pela qual não o fazemos tem geralmente a ver com as convicções limitadoras que temos sobre nós.

A linguagem verbal
Costumo afirmar nos meus cursos que o grande problema da linguagem verbal é a gente acreditar no que diz. Isto tem a ver com o que é talvez o maior pilar em que assenta este método. O primeiro trabalho da PNL foi sobre magia, a magia da linguagem: destruímo-nos ou realizamo-nos, não pelo que somos, mas por aquilo que dizemos. Acreditamos no que dialogamos interiormente e no que nos sai pela boca, o que é muito grave, sobretudo se esse conteúdo é negativo e limitador. As palavras referem-se a acontecimentos mas são distorções, omissões e generalizações de acontecimentos. Acreditamos que temos de fazer isto e aquilo, que se deve agir assim ou assado, que não somos capazes, que é difícil, que a culpa é dos outros, que as coisas estão mal, que a vida é feita de lutas e amarguras, que somos preguiçosos, que num dia de chuva e frio ninguém se pode sentir bem… Tudo isto são expressões linguísticas que, pela própria natureza da linguagem, não refletem os fatos. A magia reside no fenómeno de que, ao acreditarmos no que estamos a dizer, acabamos por nos sentir assim. Muitas vezes é a linguagem que vai originar o desconforto.

Linguagem e crenças são equivalências
A maioria das pessoas não tem a mínima noção de que o que pensam sobre os outros, sobre si e sobre o que são capazes ou não, são simplesmente expressões linguísticas de crenças pessoais que nada têm a ver com verdades. A tomada de consciência permite, pelo menos, discernir o caráter limitador ou ilimitado das crenças pessoais. Crenças que nos limitam, como as nomeadas acima, reduzem a autoimagem, caracterizam-se por complexidade aumentando a impossibilidade da sua realização, tornam-nos dependentes dos outros devido a estarem fora do nosso controlo e levam-nos a sentirmo-nos mal. Praticamente toda a gente confunde crenças com verdades e não tem a mínima noção que essas crenças foram invenções que nós mesmos criámos e que se tornaram regras no decorrer da nossa vida. A questão é que são estas mesmas regras que nos impedem muitas vezes de usufruir da vida e realizar qualidade. Possivelmente não existimos sem crenças, a questão está na qualidade das crenças no que se refere às consequências que podem ser, para nós e para os outros, limitadoras ou ilimitadas.

Valores
Os nossos valores, expressos na forma de substantivos abstratos tais como respeito, reconhecimento, lealdade, eficiência, justiça, etc., são os causadores, tanto da nossa satisfação pessoal, como fontes do nosso descontentamento. Quanto mais nos apegamos a eles mais empenho, motivação, sensação de realização e qualidade, mas também mais energia nos pode custar para os realizar. Por outro lado, quanto mais importantes são, maior o desconforto no caso da sua ausência. É por isso que disse na revista anterior que para falar dos valores, os motores inconscientes determinantes da nossa vida, precisaria de algumas dezenas de páginas. Importante mencionar aqui é que a grande maioria das pessoas desconhece o que é importante para elas. E são estes mesmos valores que determinam o nosso grau de satisfação ou insatisfação na vida! Há valores mais importantes escondidos por detrás de valores, o que permite desilusões, mesmo após objetivos realizados com relativo sucesso. É que não era isso, mas sim algo mais importante que está ainda por detrás do valor realizado. E há, para além disso, valores opostos dentro da mesma pessoa, valores com o mesmo conteúdo emocional, o que leva a conflitos internos e, às vezes, à impossibilidade de tomar decisões. Há ainda subtis direcionamentos na realização de valores, a sua realização ou a luta contra o que se não quer (injustiça, prisão, desrespeito, desonra…) um processo praticamente inconsciente. Neste último caso as pessoas lutam, sem ter consciência disso, contra o valor que não querem... e acabam por recebê-lo de presente.

Padrões de pensamento e comportamento
Uma das ferramentas mais poderosas em PNL para autoconhecimento e previsão de comportamentos, a que geralmente é dada nos cursos pouca atenção, é aquilo a que se chama “meta programas”. Talvez seja por esta falta de atenção que, mesmo alguns especialistas em PNL, procuram conhecer o seu perfil psicológico nos mercados alternativos. Os meta programas medem as características psicológicas pessoais e são assim os diretos responsáveis por uma pessoa se sentir bem ou mal numa tarefa, numa relação, numa equipa, num lugar. Afirmo, com toda a convicção, que não é possível falar de qualidade de vida se não nos encontrarmos no contexto adequado às nossas preferências, aos nossos padrões naturais de pensamento e ação. Os meta programas medem, entre outras coisas, o nosso grau de proatividade ou reflexão; de preferência por opções ou procedimentos; o grau de procura de similaridades ou diferenças; interesse no global ou na especificidade; a preferência para um pensamento em termos de conceitos, estruturas ou usos; interesse primário em pessoas, informação, atividade, coisas, lugares; trabalho sozinho ou em equipa, etc. Cerca de dezanove meta programas em inúmeras combinações. São possíveis centenas de perfis, cada um com um conjunto de variáveis preferenciais responsáveis por um ajustamento harmonioso ou não a uma situação determinada.

Alinhamento neurológico
Já foi falada na revista anterior a importância da congruência da autoimagem no quadro daquilo que se chamam em PNL os “níveis (neuro)lógicos de comunicação”. A sensação de balanço, harmonia, qualidade, é alcançada através de um alinhamento entre os elementos mais conscientes e inconscientes do nosso ser. A sensação de significado, qualidade e realização é conseguida quando nos sentimos funcionando em harmonia nos nossos diversos papéis na vida. E não só. Os níveis (neuro)lógicos falam essencialmente da relação entre o visível e o invisível. Falam do que produzimos no mundo e daquilo de que somos capazes apoiados pelas crenças e pelos nossos valores essenciais em harmonia com a sensação mais profunda do que sentimos como sendo Nós. O modelo dos níveis (neuro)lógicos refere-se, por fim, à nossa relação com aquilo que vai para além de nós, do que sentimos como sendo o nosso significado último, a razão pela qual achamos que estamos no mundo.

O que é a PNL?
Como estudo do funcionamento da mente, a PNL oferece-nos modelos para compreender e prever as nossas sensações, as nossas reações ao mundo e o comportamento dos outros. Possuímos, como vimos, inúmeras ferramentas que são o resultado desse estudo, ferramentas essas que nos ajudam a formular e realizar, de forma mais fácil, aquilo que é para nós realmente significativo e viver assim uma vida que possamos considerar de qualidade. A PNL contribui para que, se o quisermos, agirmos cada vez mais a partir do que sentimos como sendo verdadeiramente nós mesmos, o nosso centro, e encontrarmos maior balanço dentro de nós e em maior harmonia na relação com os outros. Dá-nos, por fim, consciência de que somo um sistema dentro de um sistema maior e que o balanço, a harmonia, o sentido da vida, reside nessa relação com esse todo que vai para além de nós traduzido naquilo que eu chamei aqui o nosso objetivo ou significado último, ou a nossa “missão” como se diz em PNL. É por isso que, no meu entender, falar de qualidade de vida é responder à pergunta: "O que anda cá a fazer?" E agir de acordo com a resposta que encontrou.

José Figueira 17/09/2012

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