Era uma vez…
Um homem pobre,
Sem eira nem beira
Sem burro ou carroça
Sem tostão ou cobre
Na sua algibeira…
Sem ser sequer motivo de troça!
Passava o dia a mendigar
A procurar frutos selvagens
Uns andrajos costumava usar
E na cabeça um barrete esverdeado
Contentava-se com viver,
Com o céu contemplar
E das nascentes a água beber.
Nada mais desejava
E todos nós sabemos
Que chegada a sua idade
E não se desejando mais nada
Sente-se o sabor da Felicidade!
Um dia passando pelas barracas da Feira
Avistou na cabeça do palhaço
Uma coroa de latão
Adornada com guizos de prata na beira!
E foi desde então,
Ao ouvir os guizos tilintar
Que o mendigo,
que sempre tinha a sabedoria à sua beira,
Ficou de cabeça no ar
Maravilhado com o dirindindim, dirindindim!
Ficava de boca aberta só de pensar:
“ Que beleza, que seria de mim?
Se mandasse o meu barrete voar
E pudesse vestir na cabeça o tilintar
Da coroa de latão por fim?”
Tinha no seu coração inocente
Nascido o primeiro desejo!
O primeiro de uma série ilimitada…
Tinha acabado a paz na sua mente…
A partir daquele dia
O pobre homem ficou diferente!
Deixou de se encantar
Com a deliciosa água das fontes
Com as nuvens a passar
Com a altura dos montes
Ou com um pássaro a voar…
Só sonhava com a coroa de latão
E ficou triste desde então…
Ofereceu os seus serviços ao palhaço nas feiras!
E depois de tanto trabalho:
piruetas, graçolas, saltos e brincadeiras,
Eis o merecido prémio: a coroa de latão!
Como era brilhante e bela
E ao olhar para ela
Pensava ser feliz então!
Mas não era, efectivamente não passava de ilusão!
É que todas as vezes que as campainhas tilintavam
Um novo desejo despertava no seu pobre coração…
Todas as coisas ele desejava
As mais lógicas e absurdas
As mais vãs, doces e irresistíveis coisas
que por ele passavam!
Até que compreendeu
Que mesmo coroa de latão
Este sonoro chapéu
Não era senão uma ilusão
Tudo o que lhe poderia dar
Era desordem e inquietação!
Num profundo suspiro, sem mais pensar
Foi ter com o palhaço
e entregou-lhe a coroa de latão…
1 comentário:
chegamos á conclusão que nunca estamos satifeitos com aquilo que temos, desejamos sempre mais
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