quarta-feira, 30 de março de 2005

Era uma vez...

Era uma vez…
Um homem pobre,
Sem eira nem beira
Sem burro ou carroça
Sem tostão ou cobre
Na sua algibeira…
Sem ser sequer motivo de troça!

Passava o dia a mendigar
A procurar frutos selvagens
Uns andrajos costumava usar
E na cabeça um barrete esverdeado
Contentava-se com viver,
Com o céu contemplar
E das nascentes a água beber.

Nada mais desejava
E todos nós sabemos
Que chegada a sua idade
E não se desejando mais nada
Sente-se o sabor da Felicidade!

Um dia passando pelas barracas da Feira
Avistou na cabeça do palhaço
Uma coroa de latão
Adornada com guizos de prata na beira!
E foi desde então,
Ao ouvir os guizos tilintar
Que o mendigo,
que sempre tinha a sabedoria à sua beira,
Ficou de cabeça no ar
Maravilhado com o dirindindim, dirindindim!
Ficava de boca aberta só de pensar:
“ Que beleza, que seria de mim?
Se mandasse o meu barrete voar
E pudesse vestir na cabeça o tilintar
Da coroa de latão por fim?”

Tinha no seu coração inocente
Nascido o primeiro desejo!
O primeiro de uma série ilimitada…
Tinha acabado a paz na sua mente…
A partir daquele dia
O pobre homem ficou diferente!
Deixou de se encantar
Com a deliciosa água das fontes
Com as nuvens a passar
Com a altura dos montes
Ou com um pássaro a voar…
Só sonhava com a coroa de latão
E ficou triste desde então…

Ofereceu os seus serviços ao palhaço nas feiras!
E depois de tanto trabalho:
piruetas, graçolas, saltos e brincadeiras,
Eis o merecido prémio: a coroa de latão!
Como era brilhante e bela
E ao olhar para ela
Pensava ser feliz então!
Mas não era, efectivamente não passava de ilusão!
É que todas as vezes que as campainhas tilintavam
Um novo desejo despertava no seu pobre coração…
Todas as coisas ele desejava
As mais lógicas e absurdas
As mais vãs, doces e irresistíveis coisas
que por ele passavam!

Até que compreendeu
Que mesmo coroa de latão
Este sonoro chapéu
Não era senão uma ilusão
Tudo o que lhe poderia dar
Era desordem e inquietação!
Num profundo suspiro, sem mais pensar
Foi ter com o palhaço
e entregou-lhe a coroa de latão…

1 comentário:

Anónimo disse...

chegamos á conclusão que nunca estamos satifeitos com aquilo que temos, desejamos sempre mais