sexta-feira, 15 de abril de 2005

TEMPO

Olá a todos,

Chegou-me uma história, que tanto quanto sei é verdadeira, acerca do tempo e como nosa relacionamos com ele. Não podia ser mais apropriada, considerando o desafio com que estou a trabalhar. Sobretudo os meus colegas que estão a fazer o Master comigo sabem do que estou a falar.
Cá vai então a história, que é contada na 1ª pessoa, mas por alguém que não sou eu.
Abraços a todos.


Olá,

Já vai para 15 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca.
Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante.
Aqui, qualquer projecto demora 2 anos a concretizar-se, mesmo que a ideia seja brilhante e simples. É regra.

Então, nos processos globais, nós (portugueses, brasileiros, americanos, australianos, asiáticos, etc.) ficamos aflitos para obter resultados imediatos, numa ansiedade generalizada. Porém, o nosso sentido de urgência não surte qualquer efeito neste pams. Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões e ponderações. E trabalham num esquema bem mais "slow down". O pior é constatar que, no fim, acaba por dar tudo certo no tempo deles, com a maturidade da tecnologia e da necessidade; aqui, muito pouco se perde.

É assim:
1. O pams é cerca de 3 vezes maior que Portugal;

2. O pams tem 2 milhões de habitantes;

3. A sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (Lisboa, tem 1 milhão);

4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia,...

5. Para ter uma ideia, a Volvo fabrica os motores propulsores para os foguetes da NASA.


Digo a todos estes nossos grupos globais de trabalhadores: os suecos podem estar errados, mas são eles que pagam nossos salários.

Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha
mais cultura colectiva do que eles. Vou contar-vos uma breve história, só para vos dar uma noção...

A primeira vez que fui para lá, em 1990, um dos colegas suecos apanhava-me no hotel todas as manhãs. Era Setembro, frio, e a neve estava presente.
Chegávamos bem cedo à Volvo e ele estacionava o carro longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, uma manhã perguntei-lhe:

- Você tem lugar marcado para estacionar aqui? Chegamos sempre cedo, o estacionamento esta vazio e você deixa o carro à ponta do parque.

Ele respondeu-me, simples, assim:

- É que, como chegamos cedo, temos tempo de andar. Quem chegar mais tarde já vem atrasado, precisa mais de ficar perto da porta. Você não acha?

Nesse dia, percebi a filosofia sueca de cidadania! Serviu também para rever os
meus conceitos. SLOW vs FAST.

Ha um grande movimento na Europa hoje, chamado SLOW FOOD. A Slow Food
International Association - cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede em Itália (o site, é muito interessante. Veja-o). O que o movimento SLOW FOOD prega, é que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" a sua confecção, no convívio com a família, com os amigos, sem pressas e com qualidade. A ideia é a de se contrapor ao espírito do FAST FOOD e tudo o que ele representa como estilo de vida, em que o americano "endeusificou".

A surpresa, porém, é que esse movimento SLOW FOOD serve de base a um movimento
mais amplo chamado SLOW EUROPE, como salientou a revista Business Week na sua
última edição europeia. A base de tudo, esta no questionar da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo ` "quantidade do ter" em contraponto ` qualidade de vida ou ` "qualidade do ser".

Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas, (35 h/semana) sco mais produtivos que os seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituiram a semana de 28,8 horas de trabalho, viram a sua produtividade crescer nada menos que 20%.

Esta chamada "slow atitude" esta a chamar a atenção, até dos americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já).

Portanto, esta "atitude sem-pressa" não significa, nem fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos pormenores e com menos "stress".

Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e real, em contraste como "global" - indefinido e anónimo.

Significa a retoma dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.

Significa um ambiente de trabalho menos coercivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde os seres humanos, felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.

Gostaria de que vocês pensassem um pouco sobre isto.
Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou "A pressa é inimiga da perfeição" já não merecem a nossa atenção, nestes tempos de loucura desenfreada?

Será que as nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa", até para aumentar a produtividade e qualidade dos nossos produtos e serviços, sem a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível. Um personagem cego,
interpretado por Al Pacino, convida uma moça para dançar e ela responde-lhe:

- Não posso, porque o meu noivo deve chegar dentro de poucos minutos.
- Mas, num momento, se vive uma vida. (responde ele, conduzindo-a num passo de
tango). E esta pequena cena é, para mim, o momento mais marcante do filme.

Algumas pessoas correm atrás do tempo, mas parece que só o alcançam quando
morrem de enfarte, ou algo assim.

Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e esquecem-
se de viver o presente, que i o único tempo que existe.

TEMPO, toda a gente tem, por igual.
Ninguém tem mais, nem menos, que 24 horas por dia.
A diferença é o que cada um faz do seu tempo.
Precisamos de saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon, "A vida, é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro".


Parabéns por ter lido até ao fim. Muitos não leram esta mensagem até ao fim, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado.

Pense, e reflicta até que ponto vale a pena deixar de "curtir" a sua família, ou os seus amigos. Deixar de estar com a pessoa amada, ou passear na praia no fim-de-semana.

Amanhã, poderá ser tarde demais."


Um Bom Dia a todos!!!

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