segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Almofadas no chão!


Por mais que os anos me pareçam
pesos acrescentados à minha bagagem,
nunca esquecerei uma caixa cheia de brinquedos.
Ainda que a alegria de hoje
não seja a mesma dos primeiros anos,
jamais me será possível esquecer
como era sorrir sem medo de ser feliz.
Mesmo que decepções tenham
abalado minha confiança nos semelhantes,
uma vez ou outra lembrar-me-ei
de alguém pequenino que há muitos anos
me deu um beijo melado numa festa de aniversário.
Ainda que muitos amores
entrem e saiam de minha vida,
as lembranças do primeiro amor
em nenhum tempo se apagarão de minha memória.
Depois de alguns fracassos,
talvez hoje eu creia que é não é fácil alcançar o sucesso,
e para sempre relembrarei
o orgulho que senti de mim mesma
quando recebi o meu primeiro diploma.
Se hoje nada mais me espanta,
depois de tantos desapontamentos,
por certo nunca esquecerei o espanto e o prazer
que senti quando descobri que Pai Natal era o meu pai.
Embora a solidão tantas vezes me assalte,
em certos momentos lembrar-me-ei
como era bom ficar sozinha,
falando com meus amigos invisíveis (para "gente grande").
Se hoje, nos dias de lazer, em praias ou campos,
Eu me vigio o tempo todo para não me sentir ridícula,
é bem nesses dias que me recordo
como já foi gostoso andar sem vestes,
inocentemente, e sem sentir vergonha.
Por mais que o tempo passe, sou uma criança e sempre serei.
Agora estou aqui, crescida, sofrida, cheia de boas e de "menos boas" experiências,
de vivências que me ajudam a prosseguir, e lá no fundo, bem no fundo,
eu sei que alguém que mais me tinha a ensinar era a criança
que eu mandei ficar quieta, comportada, sentada lá num cantinho
não podendo abrir a boca sem pedir licença.
Liberto-a para libertar-me.
Seja qual for a minha idade, isso pouco importa à minha criança.
É só chamá-la e ela aproximar-se-á.
Chamo-a! Rio com ela ... Brinco com ela ...
Ela está louquinha para fazer bagunça e para morrer de rir de mim e comigo.
Alegro-a! Ela merece! Eu mereço!
Não me importo com o que os outros possam pensar, pois eles também são crianças e sempre serão.
Convido-os para um passeio no seu trenzinho eléctrico.
Talvez eles se neguem a ir, e um dia se arrependam, ou talvez não.
Vou sem medo de cair!

Para crianças Deus coloca almofadas no chão.

Adaptado de Silvia Schmidt... Para todas as crianças como eu...

1 comentário:

Anónimo disse...

Belinha (será sempre assim para mim):
É adaptado de Silvia Schmidt, mas bem poderia ser teu... Ainda bem que a criança não adormeceu em ti... Porque também foste uma criança maravilhosa, cheia de força na adversidade que teima em caminhar ao teu lado... Mas também só tu a sabes abraçar assim... Quando quiseres aparece! Gostei de passar por mais um local por onde passas... Luis Sousa