quarta-feira, 11 de abril de 2012

PNL e Desenvolvimento Pessoal

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Revista mensal online de Programação NeuroLinguística
Ano 2 – 02, FEVEREIRO 2012
PNL e Desenvolvimento Pessoal
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PNL e Desenvolvimento Pessoal

O mercado está a abarrotar de cursos de “desenvolvimento pessoal”.Todos os dias caem nos nossos computadores novos convites para cursos com promessas de salvação. De que se está realmente a falar? Às palavras como “desenvolvimento” nas suas inúmeras variantes, chamamos nominalizações. São substantivos abstratos com origem em verbos com uma característica particularmente interessante: toda a gente julga que sabe do que se está a falar. Devido ao seu caráter abstrato, cada um de nós dá-lhes a sua própria interpretação. Na condição que se não vá esmiuçar do que se trata, as pessoas estão (aparentemente) de acordo. Desde que a gente se sinta feliz está tudo em ordem, não acham? Não existem verdades, existem conceitos. Isto é tanto mais correto quanto falamos de nominalizações. Qualquer preenchimento concreto do significado de uma nominalização tem um caráter pessoal. Se alguma vez se fala de “desenvolvimento pessoal” nos nossos cursos, o que se quer dizer e o que se pretende atingir então com isso?




O processo de crescimento



Crescemos modelando a cultura envolvente e aprendendo coisas práticas. Treinamos e treinamos e treinamos e, num determinado momento, tornamo-nos “inconscientes competentes” na atividade ou habilidade aprendida. Manifestamos então habilidades de forma automática e, muitas vezes, falamos de talentos inatos esquecendo até o processo de aprendizagem a que nos submetemos para chegar lá. O desenvolvimento pessoal na nossa vida, desde a nascença, engloba o adquirir de conhecimentos e práticas específicas para executar tarefas, seja andar, falar, escrever, conduzir, expressar-se numa língua estrangeira, projetar um edifício, lidar com o computador, manusear o telemóvel, confecionar uma refeição… e também aprender competências de ação e comunicação tais como, eficácia, empatia, assertividade, saber escutar, responsabilidade, contextualização, cooperação, autonomia, etc. … e absorver (inconscientemente) os valores culturais dos outros. O desenvolvimento pessoal oficial, nas escolas e nas organizações tem, em geral, muito a ver com o que consideramos como nível neuro(lógico) de aprendizagem de competências. Pela nossa parte partimos, como é usual em PNL, do princípio que a qualidade de vida, o grau de satisfação e o significado de tudo o que fazemos reside, não neste nível do comportamento e das competências, mas está diretamente relacionado com os fatores subjacentes inconscientes que formam os nossos valores e personalidade.




A construção da identidade



Todo o processo de crescimento a partir da nascença (e se calhar até antes, como já se fala em neurociência) é um processo de construção da personalidade. Não só desenvolvemos habilidades, qualidades e competências, mas alicerçamo-nos em crenças e traços de caráter para nos protegermos e agir no mundo. Adotámos crenças e valores, desenvolvemos traços e padrões recorrentes de funcionamento para sobreviver. Criámos “caráter”. Com a ajuda dos elementos herdados, tornámo-nos assim mais introversos ou extrovertidos, mais racionais ou sensitivos, mais analíticos ou intuitivos, mais organizados ou dispersos. Desenvolvemos hábitos, virtudes e vícios: vaidade, tolerância, teimosia, preguiça, romantismo, simpatia, pessimismo, ponderação, orgulho, modéstia, honestidade, distração, arrogância... Construímos todo um sistema de valores que parecem dar significado à nossa vida. Couraçámo-nos para enfrentar agruras e conquistar um lugar no mundo e empregamos muita da nossa energia em adultos para conservar a couraça e a fortalecê-la.


O grande momento da insatisfação

O sucesso e sensação de bem-estar no crescimento pessoal ao nível dos comportamentos e das competências são absolutamente dependentes das crenças, valores e emoções a que, infelizmente, não lhes é dada a devida atenção. Estes fatores são pois determinantes para o “significado” das nossas vidas e, mais tarde ou mais cedo, somos confrontados com eles. Como me sinto? Qual é o valor do que estou fazendo? Para quê? Reconheço-me no que faço no dia-a-dia? Nas minhas relações? Na forma como aproveito ou sinto que estrago o meu tempo? Este pode ser o grande e esperado momento da crise e este momento leva-nos a entrar num processo de busca de algo que preencha uma necessidade qualquer, um vazio, uma inquietação interna. Há que fazer então qualquer coisa no campo do “desenvolvimento pessoal”. É aqui que pode entrar em cena o mercado da New Age, com todo o seu enorme arsenal de práticas esotéricas que vai derramar águas (aquarium) sobre o mundo para criar a Nova Era da nova mentalidade e consciência universal. É aqui também que as pessoas se podem dirigir àquilo que às vezes é chamada de “ciência e arte da PNL”. A Programação NeuroLinguística, com base, entre outras, na linguística, cibernética e psicologia, oferece-nos então o caminho para uma auto consciencialização maior da estrutura do nosso funcionamento, do que fazemos, de quem somos, do que queremos e como chegar lá.


Caminhos no desenvolvimento pessoal

Iniciar um trajeto em PNL significa ver-se ao espelho e perceber as estruturas do funcionamento da mente. E não só. O mais importante são as ferramentas à disposição para poder lidar com essas estruturas, ferramentas para transformar comportamentos, para melhor emprego de habilidades e qualidades, para transformação de convicções e para o manuseamento de sensações e estados emocionais. São instrumentos poderosíssimos. O caminho está aberto para uma nova fase de desenvolvimento e auto descoberta. Na prática de PNL no mundo podemos observar diversas espécies de desenvolvimento pessoal tendo sempre como fim, de forma explícita ou não, realizar um maior significado de vida. Como modelo, podemos talvez imaginar uma escala com dois extremos em que cada praticante ou instituto ocupa o seu lugar, movendo-se mais ou menos numa ou noutra direção: - Numa direção da escala encontramos práticas que têm como objetivo reforçar ainda mais a personalidade e o emprego quase manipulativo de métodos de influência. Encontramo-las em técnicas de sedução, às vezes nas vendas, em algumas formas de liderança, nas empresas… Nas suas diversas formas tendem a fortalecer o “nós” contra o “eles” … - Felizmente que, na maioria dos casos, a epistemologia, método e técnicas de PNL é empregue para dissociação de apegos a crenças e hábitos, afastamento do socialmente correto e criando uma sensibilização para uma abertura a estados de ser mais subtis e o emprego de ferramentas de forma ecológica numa perspetiva de contribuição para um mundo melhor. Como ilustrado acima, para os conhecedores da história, qualquer abordagem seja em que instituto for, reflete certamente a origem da PNL nos anos 70: o fim da época idealista dos Hippies e o nascer dos consumistas de bom gosto, sucesso profissional e bem recompensados, os Yuppies.


A busca (ilusória?) de significado

Quando se fala de desenvolvimento pessoal em PNL, muito provavelmente está-se a falar de consciencialização de estruturas atrás de estruturas. A Programação NeuroLinguística não pode existir, parece-me, sem este conceito de base. Por detrás de cada hábito, crença e valor, emoção, traço de personalidade, há um nível de significado superior que dá sentido aos níveis inferiores. É sempre assim, em PNL ou na vida. Procuramos significado e fazemos tudo para ser ouvidos, para pertencer a um grupo. Tornamo-nos seguidores seja de um sindicado, partido político, instituição religiosa, clube de futebol, de uma instituição acreditada qualquer, ou da maçonaria… De uma forma geral fazemos, às vezes, o impossível para realizar significado… afirmando-nos. Escrevemos livros, metemos por detrás do nosso nome a palavra doutor ou engenheiro ou advogado, colecionamos logos, damos referências, tudo na busca desesperada de sermos “alguém”. A questão é que, na maioria das vezes, a forma como o fazemos não é funcional. Tudo o que realizamos tem como fim preencher significados. Desde os mais materiais aos mais espirituais. Só como exemplo, um caso meu conhecido, nas suas próprias palavras: “Esforcei-me tanto na minha vida para conseguir poder e prestígio. Prestígio dava significado ao meu intenso e dinâmico trabalho. Estive à beira de me tornar um workalcoholic. Consegui prestígio e quis maior segurança. Percebi que segurança e a admiração dos outros era a estrutura com significado mais abrangente que prestígio e que me servia de motor. Pude com o dinheiro que ganhava comprar uma moradia (“blindada”). Tive durante uns tempos uma sensação de segurança. Adquiri os bens que me davam segurança mas… sentia-me vazio. Preenchi o vazio com uma procura de liberdade e vivi pensando nas férias; conseguiria então usufruir de uma sensação de bem-estar, pensava. E, pelo caminho, ia juntando matéria, um carro maior, mais gente à minha volta, ler mais livros, frequentar mais cursos que não ousava revelar aos meus colegas e amigos, e hobbies, filhos, cães e gatos, possuir cada vez mais “brinquedos”. E não encontrava paz, sentia falta de significado. E com o que fazia, afastava-me cada vez mais do que sentia ter significado. Aliás, durante muito tempo não tinha a mínima noção de qual era para mim o Significado. Na prática, para poder usufruir da liberdade das férias que poderiam dar um significado maior aos meus dias e me fazer sentir livre, trabalhava ainda mais, o que me ia impedindo ter tempo para férias...”


Níveis lógicos e desenvolvimento pessoal

Muito usual em PNL é portanto o pensamento em termos de categorias lógicas em que uma categoria superior dá significado à categoria inferior. O contexto onde nos movemos exige um comportamento adequado apoiado pelas competências necessárias. O desenvolvimento e emprego de competências exigem um nível lógico superior de atitudes e este, por sua vez, de normas enquadradas por crenças que, por sua vez, giram á volta de valores. Os nossos valores formam em si mesmo uma hierarquia. Por detrás de um significado há um significado superior, um quadro mais abrangente. Pretende-se, ao falarmos de desenvolvimento pessoal, chegar a um alinhamento coerente de níveis em que o nível superior dá significado ao inferior e este sustenta o superior. Uma técnica básica, usada em PNL, é o progressivo “alinhamento dos níveis neurológicos”. Tem como fim a investigação e a resolução de incongruências e incompatibilidades entre os diversos quadros. Pretende-se atingir uma relação harmoniosa entre comportamentos, competências, crenças e valores, traços psicológicos e emoções, onde o nosso objetivo último atua como elemento significativo orientador e unificador.


Mais abordagens


Há quem considere o Estado Essencial, um conceito introduzido por Connirae Andreas, como sendo a realização do nosso significado último. O Estado Essencial é definido por nominalizações pessoais tais como plenitude, amor, totalidade, nirvana, etc… A intenção no emprego da técnica chamada Transformação Essencial, é uma ressignificação (ou reenquadramento) total, quer dizer, fazer com que esse estado essencial penetre, por assim dizer, transforme e enriqueça, em última análise, todos os aspetos da nossa vida. Fala-se às vezes de estados cada vez mais subtis por detrás de estados, tal como o faz Michael Hall que introduziu em PNL o conceito de Meta-estados. Robert Dilts e muitos com ele, falando da chamada terceira geração, acham que se atingiu a fase de trabalho com o “campo”. O “campo” tem todas as respostas e no “campo” está presente o significado transcendente. A história da PNL é vista como uma caminho que no começo se concentrou na “mente cognitiva” dando-se muita atenção aos aspetos do consciente e da racionalidade. A segunda geração concentra-se na “mente somática” e a atenção vai para o inconsciente e o papel da intuição. O estudo da experiência subjetiva da terceira geração concentra-se à volta da relação com a “mente coletiva”. Ditls e DeLozier falam do transcendente e inconsciente coletivo e pressupõem que a mente humana não existe só na cabeça e no corpo mas que existe uma sabedoria no corpo e uma sabedoria transcendente e universal para a qual nos podemos abrir para o nosso desenvolvimento. Claro que há quem critique estas ideias como um regresso à subjetividade de caráter especulativo e esotérico. Dilts justifica-se dizendo que se as pessoas experienciam esta dimensão e desta forma a PNL só ficará enriquecida acrescentando o “campo” ao estudo da experiência subjetiva. Com base nisto muitos praticantes e escolas de PNL juntam indiscriminadamente às suas práticas todo um conjunto de atividades consideradas alternativas. Segundo o que entendi de Dilts, a questão que se põe é: como estão a ser modeladas, de forma que se possam tornar utilizáveis para todo o mundo, tal como é a característica fundamental das ferramentas de PNL.


Conclusões?

Como estudo da experiência subjetiva, a Programação NeuroLinguística obedece à regra básica de qualquer disciplina que tenha como fim as célebres palavras à entrada do templo de Delfos e que, segundo consta, serviram de inspiração a Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. E vai mais longe. Embora não seja ciência, oferece ferramentas descritas na forma de “receitas” que se afiguraram de valor universal para a mudança. O outro lado da medalha é que são tão simples que muitos pensam poder empregá-las sem um conhecimento profundo da sua epistemologia. Claro que cada pessoa tira da Programação NeuroLinguística o que quer. Mas desenha-se uma tendência clara na sua história. Após a modelagem de terapeutas de renome mundial depressa se passa explicitamente do comportamento para o terreno determinante do inconsciente. Os significados do comportamento são procurados então no campo das crenças e valores. Dentro desta área falamos de hierarquias de significados orientadores que atingem o seu topo em Estados Essenciais. E na última década é corrente procurar as respostas e os Significados na memória coletiva e na “sabedoria do campo”. A PNL atingiu o seu fim? Ou estamos, nos últimos 10 a 15 anos à porta de uma nova realidade? A “next generation” encontrará ferramentas universais para atingir e realizar uma forma de consciência de significados transcendentes, para juntar às mais poderosíssimas ferramentas que já possuímos em PNL?

José Figueira

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